28 de novembro de 2008

Como as músicas de Chico

de leve
invade meus ouvidos
manso, devagar,
com notas perfeitas
que se enlaçam feito amantes
letras desenhadas
feito tatuagem
melodia emoldurada
a divagar
como as músicas de Chico
assim...
bossa,
minha nossa...

(ana maria de abreu siqueira)

Ainda sonolenta abri a porta do quarto e fiquei esperando algumas palavras, mas em silêncio entrou no quarto e ficou me olhando, como se esperasse algum movimento meu. Estava cansada demais para discutir qualquer assunto, só queria dormir e sonhar e acordar bem no outro dia.

Deitei de novo, mas não me deixou dormir, ficou ali imóvel a esperar, me incomodando de um jeito que precisei ser ríspida. 'Puxa! Preciso dormir, estou cansada. Não podemos deixar para amanhã?' Mas nada disse, ficou me olhando com um olhar calmo. Percebi então que estava disposta a ficar ali a noite inteira esperando.

Rendi-me, levantei, lavei o rosto, fiz um café e sentei com lápis e papel na mão. Olhei para ela e perguntei o qual era seu desejo. Foi quando percebi que os objetos no meu quarto voavam sutilmente, na folha branca as palavras dançavam, dando as mãos, cantando versos. Pude dormir quando a lua estava indo embora. Antes mesmo de fechar os olhos pude ver a inspiração fechar a porta do quarto cuidadosamente.
(ana maria de abreu siqueira)