9 de dezembro de 2006

Independente de qualquer coisa...

(escrita há muito tempo)

Há muito tempo conheci um cara que não era só um “um cara”. Foi bem especial encontrá-lo.

Primeiro encontro: um olhar.

Segundo encontro: um sorriso, uma boa conversa, mais sorrisos, vários olhares.

Terceiro encontro: um beijo, o beijo, que beijo.

Quarto encontro: um beijo bem demorado, acompanhado de beijos acalorados.

Quinto encontro: não existiu. Ainda é uma reticência ou uma interrogação, mas creio que tenha sido um ponto final. Depois de escutar: “Independente de qualquer coisa, você é especial.” Ri comigo e depois ri alto. Ele perguntou-me qual a graça, desconversei, mas rio comigo até hoje.

Cá para nós, que ele não tome conhecimento, mas “independente de qualquer coisa” parece prêmio de consolação (continuo rindo). Talvez não tenha sido essa a intenção, mas palavras têm poderes que a própria razão desconhece. Ao proferir tal afirmação, o cara, que não era só “um cara”, tornou apenas “um cara”. Mas em questão de segundos, tudo voltou ao normal, quando meu lado de mulher segura falou mais alto.

Achei a história engraçada porque a mulher sensível que há em mim quase me consumiu, o que teria me deixado aborrecida e triste com o tom jocoso do cara. Diverti-me, por ser madura o suficiente para saber que as pessoas podem sim ser especiais “independente de qualquer coisa”.
Se foi ou não um prêmio de consolação, nunca descobri e, “independente de qualquer coisa”, ele realmente foi especial para mim, sem sarcasmo, apesar do tom jocoso da mulher que aqui escreve.

Pelo menos foi intenso até o quarto encontro (isso sim é consolo) e redeu-me boas poesias. Quem sabe um dia não reencontro “o cara” e descubro se foi mesmo um ponto final, ou apenas reticências e tudo não vire um ponto de exclamação.

Vaga-lume

Tens medo do escuro?
Por que, então, não carregas
contigo vaga-lumes?

Podemos caçá-los ao anoitecer
e guardá-los em teus bolsos.

Poderás caminhar no breu,
precisarás apenas soltá-los
e sair a vagar
com teus vaga-lumes.
Iluminando teu céu
feito fogos de artifício.
E vagar...

...vaga-lume.
Procura-se um anônimo...
(que sabe escrever)
(foto: Kat Callard)

“Lembro destes trechos
Dos traços nestes versos escritos
Até parece nostálgico
Saudoso
Não sei...”